Pinturas de Thom YORKE
Muitas vezes ouço os meus pais falarem dos Beatles ou do Bob Dylan de uma forma que me incomoda. Colocam aquele tom geracional, saudosista, "os bons velhos tempos de juventude" e acrescentam que hoje em dia não se faz boa música e que o tempo das grandes cantigas ficou lá nas décadas de 60 e 70. Se é verdade que ao falarem assim cometem uma grave injustiça, não é menos verdade evidenciarem de forma tão convincente o orgulho que têm na sua geração. Esse orgulho imediato, do soltar as palavras sem a preocupação se o que se diz é verdadeiro ou não, revela-me uma carga de ternura e inocência tão grandes que torna-se-me difícil argumentar em sentido contrário. Fazem-me lembrar crianças de turmas diferentes que no intervalo das aulas discutem pela defesa dos seus professores, cada uma dizendo que o seu é o melhor. Tudo isto para quê, perguntam-me? Talvez porque eu próprio sinta já esse orgulho geracional... talvez eu tenha já estabelecido para mim os ídolos da minha geração e não admita que nenhum dos meus primos de 15 ou 16 anos me diga que os Black Eyed Peas ou que o Eminem têm melhores músicas do que os
Radiohead ou de que os Nirvana. A sensação que tenho sempre que sai um novo disco dos
Radiohead (os Nirvana infelizmente já lá foram) é de reencontro, como se uma banda de rock fosse capaz de acompanhar o meu crescimento e eu de entender imediatamente a linguagem que usa para comunicar, sem divergências e no mesmo sentido. É que ontem deu-me para ouvir “Hail to the Thief”, o último disco de originais dos
Radiohead (já com dois ou três anitos) e só me apetecia contrapor os meus pais dizendo-lhes: “quais Beatles, quais quê… isto é que é música!” Enfim, consequências da cultura Pop…!!!
fugit irreparabile tempus lat ...
mas é bom ver como estás atento à relatividade das coisas.
O tempo ido tem essa sedução: a certeza do conhecido.
Beijão, meu querido.