"Dream" »» v. LEAL BARROS
Em dias de chuva, quando o vento é forte ao ponto de vergar qualquer guarda-chuva, gosto de vestir o impermeável e sair à rua de máquina fotográfica na mão. É um acto solitário e introspectivo. Normalmente procuro o mar; a violência das ondas e o timbre agudo do vento amplificam-se nos ouvidos e permitem-me tranquilidade. Não sou de explosões, tenho dificuldade em explodir, e são esses dias agitados que me refazem. Incapaz de uma auto-implosão, peço emprestada a violência às tempestades. Só assim se cumpre o processo, de fora para dentro, dos olhos ao coração, nunca o equilíbrio chega no sentido contrário.
Desses dias trago horas fundamentais e pedaços de película fotossensível que me documentam a memória, para não esquecer ou para forçar a lembrança de um ciclo que se cumpriu. Por vezes esses documentos são incompletos ou traduzem uma realidade falsa, uma tempestade que não existiu, e por isso doem… outras vezes são “sonhos”, são visões que profetizam a alma. Há nessas atmosferas dúbias uma possibilidade de esperança, algo que indica que a verdade é por ali. A tudo isto já apelidaram "excesso de romantismo", pelo mesmo puseram-me o selo de "romântico demodé", ao que respondi orgulhosamente, se for obrigado a postular é por aí que eu sou.
Vitor, que linda foto e que magnífico texto! Fiquei emocionada, podes crer. Isso não se faz a uma velhota como eu, mas agradeço, muito. Obrigada querido amigo, por isto, e sobretudo, pela atenção que me dás, tendo tanto que fazer. Um beijo.