Poemário #015


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A Invernar

É fácil este tempo, não há nada para fazer.
Pus a andar a centrifugadora da parteira,
Tenho o meu anel,
Seis jarros dele,
Seis olhos de gato na adega,

A invernar na escuridão sem janela
No coração da casa
Junto à compota rançosa do último inquilino
E de garrafas de brilhos vazios
Gin do senhor D. Fulano.

Este é quarto onde nunca estive.
Este é quarto onde nunca pude respirar
O escuro enfeixou-se lá como um morcego,
Sem outra luz
Que a da tocha e seu desmaiado

Amarelo-chinês sobre objectos aterradores –
Obstinação negra. Ruína.
Posse.
São elas que me têm.
Nem cruéis nem indiferentes,

Apenas ignorantes.
Este é um tempo de espera para as abelhas – as abelhas
Tão lentas que mal as conheço,
Em fila como os soldados
Para a lata do xarope

Para compensar o mel que lhes tirei.
O Tate & Lyle mantém-nas activas,
Neve refinada.
Vivem de Tate & Lyle em vez de flores.
Tomam-no. O frio instala-se.

Agora amontoam-se uma sobre as outras,
Negra
Razão contra todo aquele branco.
O sorriso da neve é branco.
Alastra como porcelana de Meissen de uma milha de comprimento,

Para onde, nos dias quentes,
Só podem carregar os seus mortos.
Todas as abelhas são mulheres,
As servas e, mais alongada, a real Senhora.
Livraram-se dos homens,

Desses insensíveis, desses desastrados sem graça, desses brutamontes.
O Inverno é para as mulheres –
A mulher, quieta, a fazer malha,
Junto ao berço de nogueira espanhola,
O seu corpo é um bolbo ao frio, e tem o ar parado de quem não pensa.

A colmeia vai sobreviver, os gladíolos vão
Conseguir apagar os seus fogos e
Entrar em mais um ano?
A que é que saberão, as rosas-do-natal?
As abelhas voam. Já sentem o gosto da Primavera.

Sylvia Plath
In “Ariel”, Relógio D’Água
Trad. Maria Fernanda Borges


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