Poemário #008


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Onde pousar a cabeça?

Um céu
um céu porque a terra já não existe
sem uma asa, sem penugem, sem plumagem de pássaro, sem condensação

estritamente, unicamente céu
um céu porque a terra já não existe

Depois da explosão de grisu na cabeça, o horror, o desespero,
depois de já não haver mais nada, tudo devastado, metido a pique, sem saída

um céu glacialmente céu

Presentemente obstruído, bloqueado, atravancado de destroços;
céu por causa da enxaqueca da terra
desprovida de céu

um céu porque já não há sítio nenhum onde pousar a cabeça

Atravessado, encolhido, amolgado, roído, desfeito intermitente, irrespirável no meio das explosões e dos fumos
que não serve para nada

um céu doravante irrecuperável

Henri Michaux
In “Antologia”, Relógio D’Água
Trad. Margarida Vale de Gato


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