Quando aqueles que eu amo erguem as mãos ao peito, e lentamente mergulham-nas sob a pele até sentirem o coração, e cuidadosamente retiram-no por entre a carne e as costelas, e seguram-no entre as mãos ainda batendo, e esticam os braços dizendo-me, toma, dou-to, é teu, e eu não tenho o mundo para oferecer-lhes, e o máximo que posso dar-lhes é o meu coração também, sofro, sofro demasiado, até perceber que tudo estava já partilhado, que o meu coração pertencia-lhes e o coração deles pertencia-me, que o mundo tinha já sido oferecido por uns e por outros, e que o único gesto em falta não era mais do que a tradução de tudo isso em palavras.
Não diria melhor, Vítor. A tua tradução em palavras, deixa o sentimento intimidado!
Tudo que resta nestes dias plúmbeos é meu coração e isso é tudo que quero que permaneça, não importa tempos, espaços, desencontros...
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre,
e até de olhos vidrados, amar?
(carlos Drumond de Andrade, "Amar", 1902-1987)
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é a única coisa porque cá estamos, não é fátima? não gosto muito de conclusões, mas acho que é uma das poucas certezas que tenho...
um beijo