Então caminhou até que a dor aguda nos pés o lembrasse que estava vivo. Tinham sido necessárias cinco vidas para desviar o olhar do chão, cinco vidas para apagar de vez esse olhar curvado e entorpecido, cinco vidas para que os olhos colidissem definitivamente com o horizonte. De ombros renovados, caminhou. Caminhou até que de novo a dor nos pés o lembrasse que estava vivo. Pela primeira vez em cinco vidas, o homem que não sabia chorar pressentiu uma lasca de tranquilidade a furar-lhe os olhos. Num gesto só, ergueu-os ao horizonte e deixou-se pacientemente cegar.
Melhor que não haja dor, que o aprendizado seja pela delicadeza, mas como não estamos livres, que ao menos a dor nos lembre de que ainda há vida a ser vivida :))
:)
Embora eu considere que a dor, pelo menos a física, é, ou deve ser, apenas um sinal de alerta, e não um fim em si (sou muito contra as dores. quem me tira a dor é meu amigo), acho que este texto está muito bonito! Um beijo e bom feriado!
O texto é excelente.
Dor, sim como sinal de consciência e de vida mas tb subscrevo com que foi dito anteriormente que seja pela delicadeza.
Ab.
L.B., e se, no fim, tivesse chorado?!
Ainda há homens assim?
Abraço.
fátima, dor como sinal de consciência como falou o Pedro (tenho, como a fátima, uma imagem pouco fadista da dor)
c.s.a. ainda há homens que choram ou que não choram? não sei se percebi a pergunta. em relação ao homem que não sabia chorar do texto o seu maior desejo era aprender a chorar, estou em crer...
abraço