O tempo começava a queimar-lhe as pestanas. Dias de espera e o horizonte não falava, nem uma palavra, nem uma lasca a furar-lhe os olhos como pressentira. A sua vontade era de caminhar no planalto, correr sobre a terra vermelha até que os pés fossem sangue e se confundissem com ela. Tinha a certeza que lá chegaria, e que debaixo da linha recta que dividia o céu da terra haveria um segredo muito maior, um mundo repleto de espelhos que produziam luz, como máquinas numa fábrica, todos sincronizados trabalhando em uníssono para o mesmo fim. E sabia ser essa a luz que lhe traria de volta o coração. Enquanto esperava, media a distância que o separava do horizonte. Dizia, se não é miragem o que vejo, então é porque deus me deu pernas para lá chegar. O homem que não sabia chorar pressentiu pela segunda vez e de novo acreditou. Meteu num bolso uma mão e no outro uma tesoura. E caminhou.
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